Carlos Rastelli, 67 anos, aposentado, calouro de Arquitetura: “Nunca tive planos de ficar sem fazer nada”.

1 de abril de 2022

 

No Brasil, é comum que o estudante ingresse no ensino superior com idade entre 16 e 18 anos, quando conclui o Ensino Médio. Assim como é muito comum também, e sobretudo em cursos noturnos, universitários na faixa de 25-40 anos, refletindo uma necessidade básica: trabalhar.

O que não acontece com a mesma frequência, é o registro de estudantes com mais de 50 anos, a não ser em instituições específicas voltadas para a chamada terceira idade.

Fugindo à regra, neste primeiro semestre de 2022 o curso de Arquitetura e Urbanismo da URI Santo Ângelo recebeu como calouro Carlos Sergio Rastelli. Natural de Fortaleza, Ceará, Rastelli tem 67 anos e é Engenheiro de Pesca, graduado em 1990 na Universidade Federal do Ceará e aposentado em 2021.

“Eu sempre quis fazer Arquitetura, mas o compromisso com o trabalho não permitia. Eu trabalhava para a Infraero, no aeroporto de Fortaleza, que foi vendido em 2018. Fui transferido para o de Curitiba, que também venderam. Então fiz o PDV e vim para o Sul, onde tenho um irmão”.

Com especializações em Desenho Mecânico, Arquitetônico e de Anatomia Animal, Rastelli diz que o mais legal do curso no momento, “é poder atuar com Desenho novamente, pois sempre gostei muito. Só isso já me proporciona uma enorme satisfação”.

E as dificuldades? “Tem algumas disciplinas que eu não via há tempos, como Geometria Descritiva, mas agora estudo com detalhes. É interessante notar como o curso de Arquitetura desperta ou consolida a veia artística da pessoa. Há muitos artistas que, ou iniciaram o curso ou são arquitetos, como o Guilherme Arantes e o comediante Falcão, que mantém seu escritório”.

Em relação à convivência com uma geração mais jovem, o futuro arquiteto observa: “Em primeiro lugar, tem que respeitar mutuamente a questão de épocas. Existem as diferenças normais, que são relativas a gostos, preferências. Mas nada que dificulte o relacionamento”.

DESCOBERTAS E EXPECTATIVAS

Apaixonado por culturas antigas como a dos Maias e dos Egípcios, Rastelli diz estar feliz pelo contato mais ordenado com a História de diferentes povos e também surpreso, pois as novas gerações sabem pouco sobre as civilizações da América.

Assim como o curso era um sonho de 40 anos, a construção de uma casa “do seu jeito” é outro, agora próximo. “Quero planejar uma casa autossuficiente, com depósito para água de reserva no subsolo, saídas de incêndio, um formato que resista à ação dos ventos. Estou ansioso com a disciplina das maquetes, para fazer a minha casa”.

Em relação ao Câmpus da URI, o universitário observa que é muito bom os setores e departamentos estarem concentrados, ao contrário de onde estudou, onde havia prédios em diferentes bairros da cidade.

Quanto a diferenças entre as regiões Nordeste e Sul, Rastelli afirma que “o pior de tudo tem sido o calor, que foi demais no verão. Como já morei três anos em Curitiba com quatro graus negativos, estou preparado para o inverno”.

E depois da graduação? Existe algum projeto?

“Se pintar alguma coisa, eu volto a trabalhar. Nunca tive planos de ficar sem fazer nada. Acho muito arriscado. O cérebro não pode parar de funcionar. Tenho mais medo de Alzheimer que de câncer”.

Nas fotos, Rastelli com a turma do primeiro semestre e na aula de Expressão Gráfica I, ministrada pela professora mestre Claudete Boff.