Publicado em : 02/05/2013

Paulo Freire: um educador esperançoso

Publicado: 02/05/2013
Fonte: Laís Francine Weyh, Giseli Pricila Moreira Klein e Cênio Back Weyh

Na semana do trabalhador, também celebramos a data em que Paulo Freire nos deixou fisicamente (02/05/1997). Além da saudade, o eminente educador produziu um legado para as gerações atuais e futuras, carregado de esperança e generosidade. Por isso é lembrado pelo mundo afora, como alguém comprometido com os desafios do seu tempo, com sua gente, especialmente com os oprimidos da terra. O seu jeito de convencer pelo diálogo reafirmou um tipo de relação fundamentada no reconhecimento do outro como sujeito histórico, contrapondo-se à vertente verticalista que praticava o autoritarismo político-pedagógico.

Pelo tipo de trabalho que desenvolveu em diferentes partes do mundo, Freire recebeu inúmeros prêmios, títulos e outras honrarias. No Brasil, sua terra natal, talvez pela frágil experiência de democracia vivenciada, tal reconhecimento oficial tardou, mas chegou. O governo brasileiro acolheu e reconheceu Paulo Freire como Patrono da Educação Brasileira em 16 de abril de 2012.

A pedagogia freireana nos ensina que a leitura de mundo precede a leitura da palavra. Concebido dessa forma, o processo educacional escolar deve considerar que a criança, jovem ou adulto é um sujeito que traz uma bagagem cultural, uma visão de mundo. Por isso, antes de serem alfabetizadas, as pessoas já incorporaram uma leitura de mundo, que diz respeito a sua experiência de vida. Nesse sentido, cabe à escola compreender e reconhecer essa caminhada que o aluno já traz consigo, e, a partir dessa, problematizar os conhecimentos, visando a conscientização, com o objetivo de construir uma sociedade onde caibam todos.

Na perspectiva de Freire, conscientização implica denúncia dos problemas que reforçam as desigualdades sociais, que não permitem aos homens e mulheres o direito de dizer a sua palavra, de exercer a cidadania e participação enquanto sujeitos de direitos e deveres. Dessa forma, acredita-se que a real democratização de um país começa necessariamente pelo envolvimento dos sujeitos em processo, rompendo com o autoritarismo elitista e dominante, ainda praticado na sociedade atual.

Entre as significativas e relevantes contribuições de Paulo Freire para o desenvolvimento de uma sociedade mais bonita, mais justa, mais igualitária e, por isso, mais democrática, destacam-se: a sua opção e envolvimento com as camadas sociais mais sofridas; o desenvolvimento de metodologias e afirmação de princípios de inclusão social através da Educação Popular; o papel do testemunho educador pela prática da coerência entre o que se diz e se faz; a valorização do saber que brota do vivido como fundamento para a construção de um saber mais elaborado (acadêmico); coragem na denúncia das situações que não permitem o outro de ser sujeito de sua história; a esperança mobilizadora na educação como mediação para uma vida melhor; a importância do docente na vida das pessoas e para o futuro da humanidade; e, a preocupação com os jovens e adultos (analfabetos) que não tiveram chance de escolarização no tempo devido.

Um olhar mais cuidadoso sobre os temas de interesse da pedagogia freireana revela o quanto a educação está relacionada com o campo político. O ato educativo é um ato eminentemente político. Assim, Freire nos ajuda a compreender que não há a mínima chance do educador ser um sujeito neutro ou desinteressado em seu fazer pedagógico. Com consciência ou de forma ingênua, o trabalho docente desenvolve-se a partir de determinada concepção ideológica e é nisso que reside o seu caráter político.

Enquanto houver sociedades que marginalizam parte da população em relação às oportunidades de vida melhor, não oferecendo as condições mínimas de dignidade, a pedagogia do oprimido e da esperança será lembrada como ferramenta libertadora e de transformação social. Assim, ser freireano significa assumir a luta por uma sociedade mais humana e justa socialmente. Esta é a utopia possível que um/a educador/a progressista opta seguir enquanto cidadão do mundo, comprometido com a prática libertadora.

A questão da atualidade da obra de Freire pode ser compreendida em sua profundidade a partir da própria fala dele, quando diz que […] “o meu encontro com a Pedagogia do Oprimido não tem o tom de quem fala do que já foi, mas do que está sendo […]. As tramas, os fatos, os debates, discussões, projetos, experiências, diálogos que participei nos anos 70, tendo a Pedagogia do oprimido como centro, me aparecem tão atuais quantos outros a que refiro dos anos 80 e de hoje”. (Freire, 1994, p13).

Este trabalhador da educação que viveu intensamente os dilemas do povo simples e oprimido continua sendo um raio de luz a iluminar o caminho dos educadores que acreditam na eficácia do processo educativo. Mesmo sabendo que a educação não pode tudo, entendem que sem esta a transformação não acontece. O diálogo continua sendo uma mediação fundamental para a construção de um mundo mais bonito, mas também constitui-se, talvez no principal desafio para uma sociedade intolerante.

Hoje, dezesseis anos após a sua morte, a práxis freireana permanece viva, sendo concretizada e reinventada por todos os educadores, militantes sociais e lideranças comunitárias, que acreditam ser possível viver num mundo com menos desigualdade.

Laís Francine Weyh e Giseli Pricila Moreira Klein – Acadêmicas de Pedagogia da URI
Cênio Back Weyh – Professor da URI



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