Papa Francisco, latino-americano!

A fumaça branca anunciava o novo Papa sucessor de Bento XVI. Quando, após a fumaça, anunciava-se Jorge Mario Bergoglio como o novo Papa da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) os holofotes da mídia e muitas das reflexões se fixaram sobre o novo Papa, sua primeira bênção, sua biografia, etc. É claro, com a boa notícia, naturalmente nossa atenção acaba centrada no novo Papa. Em meio à euforia da eleição, contudo, não podemos esquecer um dos elementos que possibilitou a eleição do novo Papa: a renúncia de Bento XVI.

O Papa Bento XVI, hoje bispo emérito de Roma, abriu o caminho para o Bispo Francisco “iniciar com o povo”! Bento XVI teve um papel decisivo nesta eleição! Ele abriu, em primeiro lugar, a possibilidade da renúncia, desvinculando a pessoa (a biografia) da função (Bispo de Roma e Papa). Com a renúncia, abriu a possibilidade de finalmente aparecer uma “cor” diferente no papado das últimas décadas. A Igreja povo de Deus, representada nos cardeais, teve tempo desde o dia 28 de fevereiro até o dia 12 de março para a reflexão. E, finalmente, no dia 13 de março de 2013 a fumaça da capela sistina anunciava uma nova “cor” no papado.

Além do mais, Bento XVI sucedeu o Papa João Paulo II, o único Papa conhecido pela geração que hoje possui 34 anos. Não era fácil suceder o Papa João Paulo II, tão querido pelos cristãos da ICAR. Bento XVI, em minha opinião, assumiu a responsabilidade de suceder um papa de várias gerações. Nisto consiste sua grandeza e sua importância na eleição do novo papa. Possibilitou, também, expor ao mundo os problemas da Cúria Romana e julgar os escândalos de abusos sexuais que envolviam a ICAR. Além do mais, Francisco, Bispo de Roma, agradeceu ao Bispo Emérito Bento XVI, negligenciando o título da Cúria Romana de que agora Bento XVI seria “Sua Santidade, Papa Emérito Bento XVI”. Papa Francisco já separou, portanto, a pessoa da função, na mesma linha de Bento XVI!

Dito isto, então, podemos e devemos falar sobre o novo Papa, Francisco: o primeiro papa latino-americano; o primeiro papa com o nome Francisco; o primeiro papa jesuíta; o primeiro…? Papa Francisco demonstrou, desde seu primeiro sorriso e sua primeira fala, que tem carisma, talvez mais do que o próprio João Paulo II. Seu carisma, contudo, é diferente. Papa Francisco viveu com o povo de Deus latino-americano e “bebeu” da teologia latino-americana, mais conhecida como Teologia da Libertação, como ficou expresso, em suas palavras e gestos de sua primeira bênção e de sua primeira homilia como pontífice.

Palavras… Papa Francisco falou a linguagem da teologia latino-americana. Demonstrou, na fala de sua primeira bênção, que o Papa é, em primeiro lugar, Bispo de Roma e, por extensão, pai de toda a ICAR; o Papa pediu ao povo, antes de sua bênção, que o abençoasse; despediu-se desejando um bom descanso, como um verdadeiro pai que se preocupa com os filhos. A mesma impressão o Papa deixou em sua homilia na primeira missa como pontífice.

Gestos… Desde sua primeira aparição pública, Papa Francisco mostrou diversas diferenças em sua veste em relação aos seus antecessores. Na sua primeira bênção, por exemplo, usou uma cruz de aço própria dos bispos, ao invés de usar a tradicional cruz dourada dos papas. Suas vestes revelam um Papa preocupado em restaurar a originalidade da Igreja.

O seu sorriso já cativou os cristãos católicos. Suas palavras chegaram ao coração daqueles e daquelas que lutam e rezam para que os mais desfavorecidos do mundo tenham esperança. Francisco jesuíta, junção franciscanos e jesuítas, duas congregações, pobreza e intelectualidade respectivamente, esse é o novo “Bispo” de Roma, pai dos cristãos católicos.

Papa Francisco, considerado conservador nas questões morais, mas libertador nas questões sociais! Do que mais precisamos? De minha parte, de um papa que considera, em primeiro lugar, das questões sociais do mundo contemporâneo. Será este o Papa Francisco?

Fábio César Junges – Professor do curso de Teologia da URI/IMT