Quatro cabeças e uma sentença: graduar-se em Direito. Irmãos Anderson, Pâmela, Scheila e Thalía são colegas de curso na URI Santo Ângelo

21 de fevereiro de 2019

 

Anderson, Pâmela, Scheila e Thalía – quatro jovens vivendo uma das etapas mais marcantes da vida, na qual os obstáculos são superados pela determinação em construir um sonho. Irmãos, eles trabalham e estudam, uma realidade comum a muitos brasileiros.

O incomum é que todos os quatro frequentam o curso de Direito na URI Santo Ângelo! Filhos de Loreni de Moura Hoinacki e Abilio Antunes, eles utilizam os mesmos livros quando é possível, trocam ideias, sobretudo em período de provas, repassam vivências e torcem uns pelos outros. Os pais encaram a situação como rara, fazem brincadeiras do tipo “o que não vai faltar é advogado na família” e, acima de tudo, são muito orgulhosos.

Scheila foi a primeira a ingressar e deve concluir a graduação este ano. O que a levou a escolher o curso foi o sonho de fazer carreira na polícia ou na justiça e, assim, sua área preferida é a Penal. Trabalhando desde o início do curso, “mas infelizmente não na área jurídica”, Scheila conseguiu financiamento estudantil e, após a graduação, pretende se preparar para concursos.

Instada a citar duas questões consideradas problemáticas no Brasil e que a justiça pode interferir para melhorar a realidade, Scheila referiu-se à segurança e à educação. “Acredito numa justiça com mais rigor na hora de julgar o delinquente. Este tem que pagar pelo erro, e não se tornar vítima da sociedade, pois quem escolhe ser bandido somos nós. Apesar de termos mais facilidade para ingressar na universidade, ainda é muito difícil ter uma educação de primeiro mundo. O problema é que mais da metade da população brasileira é analfabeta. A justiça deve interferir para mudar a cultura desde a infância; precisamos de políticas públicas para investir na educação, ao invés de ressocializar o bandido. Sei que há divergências sobre isso.”

Como lazer, Scheila gosta de leitura (drama e romance) e de brincar com seus cachorros.

Pâmela está no 9º semestre e pretende formar-se este ano. “O que me levou a fazer o curso foi a vocação. Sempre gostei muito de conversar, de buscar o direito das pessoas, reparar injustiças… Pensei muito bem antes de iniciar e, apesar de a minha irmã Scheila já estar no Direito, resolvi cursar porque tive certeza que era isso que eu queria”. No início, revela, até pensou em exercer a advocacia. “Confesso que atualmente mudei de ideia, e penso muito mais em seguir carreira na docência”.

Mesmo com muito material semelhante, Pâmela observa que “como eu e a Scheila estamos em semestres diferentes do Anderson e da Thalía, não é possível usar os mesmos livros, mas sempre nos auxiliamos com materiais de estudo que sejam parecidos. E tem algumas dicas que repasso aos mais novos. Eu e a Scheila temos nos falado mais em relação ao curso, pois ambas estamos na fase da monografia e, além disso, cursamos algumas matérias juntas em alguns semestres”.

Após manter os primeiros semestres com recursos próprios, Pâmela conseguiu financiamento estudantil e, assim sendo, passou a dedicar-se mais aos livros, preparando tanto com vistas à prova da OAB, como para buscar um mestrado. “Acho a docência uma profissão incrível”!

Tomar chimarrão e conversar sobre tudo com a família e amigos; fazer musculação, correr, ir aos cultos no domingo, assistir filmes e seriados são suas atividades de lazer preferidas, além de ler “tudo que me ajude a ser uma pessoa melhor, a evoluir”.

Ao refletir sobre questões sensíveis no Brasil hoje, Pâmela diz que apesar de não gostar muito de Direito Penal, “tenho uma visão diferente em relação à forma como é abordado o tema quanto ao sistema prisional brasileiro. Penso que nossas políticas públicas deveriam investir seus recursos na ressocialização e reintegração dos ex condenados na sociedade civil, uma vez que o sistema atual não possui estrutura alguma para a recuperação dessas pessoas. Pelo contrário, acaba por piorar sua situação. Outros fatores que acredito serem de extrema importância e que merecem a atenção são a saúde pública, segurança e educação, principalmente o acesso à educação, com oportunidades iguais para todos. São muitos os problemas existentes em nosso Estado Democrático de Direito, mas penso que se houvesse investimento na educação, muitos desses problemas teriam solução”.

Desde pequeno, Anderson gostava de assistir jornais e documentários na TV. “Sempre quis estar a par do que acontecia no país e com o sonho de ser da Polícia Federal, desejava saber no que se baseavam as normas jurídicas. Ainda tive como influência minhas irmãs, que já estavam cursando Direito e me falavam super bem do curso, me fazendo querer ainda mais”.

Frequentando o 3º semestre, Anderson tem como planos, inicialmente, ser aprovado no Exame da OAB para depois advogar, “porém, o meu desejo é realmente concurso público”.

Reunir-se com amigos, a família e compartilhar os momentos é o seu lazer preferido, além de leitura, “principalmente livros que falem da história, de momentos que marcaram o mundo e que merecem uma atenção especial”.

Instado a referir questões que considera sensíveis no país e nas quais a justiça possa interferir para melhorar, Anderson prefere não se posicionar, em virtude de sua situação de militar.

A ‘caloura’ do grupo é Thalia, que ingressa este ano no 2º semestre. “Por enquanto estou gostando de todas as áreas, mas acredito que é com a Penal que irei me identificar mais”.

Afinal, foi justamente o desejo de atuar na área policial que a levou a buscar o curso de Direito. “Não tive influência de meus irmãos, apenas me identifiquei com os leques que a graduação proporciona e nos possibilitará seguir em áreas distintas, onde é possível explorar diversos conhecimentos que a universidade oportuniza”.

Apesar de nem sempre ser possível utilizar os mesmos livros dos irmãos, Thalía observa que compartilham o inseparável “Vade Mecum”.

Conciliando a faculdade com o trabalho, a caçula do grupo pretende preparar o exame da OAB, e tentar aprovação em algum concurso público que abranja a área policial, seja ela civil ou federal. “Nas horas vagas gosto muito de ficar em casa, assistindo uma série ou aproveitando o dia com os meus bichinhos de estimação, que sou completamente apaixonada”.

Thalía diz que aprendeu a gostar de ler e, além dos livros obrigatórios da graduação, se identifica muito com comédia romântica.

Quanto à realidade brasileira, ela opina que “temos várias questões problemáticas hoje no Brasil, mas acredito que a segurança e a violência são sérios problemas, e que precisam ser resolvidos com urgência, com a intervenção do Estado, com a realização de justiça para garantir um país melhor para as presentes e futuras gerações, com pessoas que ajam em prol do país, em busca de soluções para se viver em um Brasil melhor”.

RARIDADE E CONSCIÊNCIA

Além de vivenciarem uma situação incomum, os Irmãos Hoinacki Antunes fazem parte de um outro grupo também de exceção: eles compõem os 18,1% de jovens brasileiros de 18 a 24 anos que frequentam universidades e faculdades.

Historicamente, o Brasil continua perdendo para seus vizinhos da América Latina nesta questão. Mas só em 2017, o aumento do desemprego, a queda na renda e a falta de financiamento estudantil levaram 170 mil jovens de 19 a 25 anos a abandonar a graduação. (O Estado de São Paulo-maio/2018)

Para satisfação da URI Santo Ângelo e orgulho de seus pais, eles integram ainda um outro grupo: aqueles que têm consciência de que o conhecimento muda a vida das pessoas.